terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Em busca da beleza


Soam vãos, dolorido epicurista, 
Os versos teus, que a minha dor despreza; 
Já tive a alma sem descrença presa 
Desse teu sonho, que perturba a vista. 
Da Perfeição segui em vã conquista, 
Mas vi depressa, já sem a alma acesa, 
Que a própria idéia em nós dessa beleza 
Um infinito de nós mesmos dista. 


Nem à nossa alma definir podemos 
A Perfeição em cuja estrada a vida, 
Achando-a intérmina, a chorar perdemos. 


O mar tem fim, o céu talvez o tenha, 
Mas não a ânsia da Coisa indefinida 
Que o ser indefinida faz tamanha. 



Fernando Pessoa

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