sexta-feira, 6 de maio de 2016

Ouvir Estrelas



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, 
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido 
Tem o que dizem, quando estão contigo? "

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas".

Olavo Bilac

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O Anel de vidro



Aquele pequenino anel que tu me deste, 
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou... 
Assim também o eterno amor que prometeste, 
- Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste, 
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, - 
Aquele pequenino anel que tu me deste, 
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou...

Não me turbou, porém, o despeito que investe 
Gritando maldições contra aquilo que amou. 
De ti conservo na alma a saudade celeste... 
Como também guardei o pó que me ficou 
Daquele pequenino anel que tu me deste...

Manuel Bandeira