quarta-feira, 30 de março de 2011

Murmúrio

Traze-me um pouco das sombras serenas 
que as nuvens transportam por cima do dia! 
Um pouco de sombra, apenas, 
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares 
que a noite sustenta no teu coração! 
A alvura, apenas, dos ares: 
- vê que nem te peço ilusão. 

Traze-me um pouco da tua lembrança, 
aroma perdido, saudade da flor! 
- Vê que nem te digo - esperança! 
- Vê que nem sequer sonho - amor! 


Cecília Meireles

domingo, 27 de março de 2011

Um novo dia


Espero que amanhã seja um novo dia
que possa nascer o sol e aquecer meu dia.
espero que passe esse tédio,
que passe essa melancolia.
espero um dia, poder passar e entender este dia
que sou quem nunca estava com você,
que somos de um tempo as vezes passado e as vezes futuro,
como se estivessemos sempre em desencontro.
que seja, assim, que sejamos apaixonadamente loucos.
horas felizes, horas triste, tempinho salafrário, que não me deixa sem lembrar. 
tudo isso porque amor não se pode esconder,
é um amor de vidas, distantes e unidas.
não me deixe sem saber se é amor.
Queila Tavares


sábado, 26 de março de 2011

Amar... verbo intransitivo


Se os olhares se cruzarem e neste momento, 
houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: 
pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. 


Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa ... 


Se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: 
Deus te mandou um presente divino - o amor. 


Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca 
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem 
mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um para o outro ... 


Se você conseguir, em pensamento, 
sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado ... 


Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a 
outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, 
que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida ... 


Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo estando ela de pijamas velhos, 
chinelos de dedo e cabelos emaranhados ... 


Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, 
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite ... 


Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, 
um futuro sem a pessoa ao seu lado ... 
É o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva. 


Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, 
mesmo assim tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela ... 


Se você preferir morrer, antes de ver a outra partindo ... 
É o amor que chegou na sua vida ! 


Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia 
o deixem cego para a melhor coisa da vida: 
muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, 
mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. 
Ou, às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, 
deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. 


Preste atenção nos sinais e não deixe que as loucuras do dia-a-dia 
o deixem cego para a melhor coisa da vida: 
O amor ... 


Carlos Drummond de Andrade

Os Três Mal-Amados


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto

Holanda








fotos: Manuel Roc

sexta-feira, 25 de março de 2011

Você e eu


Pensei que fosse você e eu para sempre 
Pensei que isso não iria mudar,
mas de repente não sabemos onde colocamos a razão,
perdemos juntos o que podemos dizer bom senso.
Agora você mente e forma uma teia.
Agora você diz que ama, apenas porque se acostumou à companhia.
Pensei que sempre seriam nossos votos de você e eu.
Mas agora você mudou e nem quer partir,
No final tudo parece ficar bem, mas não é final só porque acabou uma noite.
E não adianta ficar olhando para o teto, esperando um escape.
somente a estupidez de querer sair.

Queila Tavares


quinta-feira, 24 de março de 2011

Metade




Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca; 
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada 
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta 
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso 
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria 
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada 
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.


Oswaldo Montenegro

domingo, 20 de março de 2011

QUADRILHA



João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 17 de março de 2011

Se cada dia...


Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda (Últimos Poemas)

Definitivo


Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 15 de março de 2011

Os índios e o desenvolvimento da Amazônia





Por todos os índices de falta de informação já vista, todas as vezes que se fala em Amazônia, logo se relaciona a uma imensa quantidade de índios andando pelas ruas da cidade, ou vivendo de forma ainda primitiva, como nos primórdios da colonização. Idéia da qual deveria ser tratada com um pouco mais de informação sobre o norte do país, assim mesmo com informações já estudadas em História do Brasil. Resgatando a atualização da História atual do Brasil, em aspectos econômicos, geográficos e cultural. Apesar da região ter um alto teor de mistura de raça, assim como a origem do povo brasileiro. 


Pelos cálculos efetuados pelo antropólogo inglês John Hemming, da década de 1980, na região que hoje é a Amazônia brasileira, na época de contato com os homens brancos (séculos XVI e XVII) teria 3.625.000 índios. Atualmente, pelas estimativas da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), essa região detém apenas algo em torno de 156.000 indígenas, que tem ternos percentuais representariam apenas 4,3% do total daquela população original, significa então, que quase 95,7% dela desapareceram nos últimos quatro séculos.

Muito já se disse sobre o extermínio físico e cultural dessa população durante os períodos da conquista e da colonização, mais ainda é pouco pelo que representa a perda de patrimônio cultural e natural que essa catástrofe demografia ceifou, redundamente num imenso prejuízo para as sociedades do presente. Não podemos deixar de lembra que com a Independência do Brasil, no inicio do século XIX, a realidade das populações indígenas não ficou diferente, apesar dos governos imperiais e republicanos terem criados, ao longo do tempo, organismos de proteção os índios, mesmo assim o extermínio físico e cultural dos índios continuou.

Na Amazônia do século XX, a situação se exacerbou com as chamadas políticas de desenvolvimento econômicos dos governos federais e estaduais e até municipais, principalmente a partir da década de 60, quando várias rodovias foram construídas rasgando e sangrando as terras indígenas. Empresas de mineração, de extração de madeiras, de atividades agropecuárias, de produção de energia elétrica etc..., penetraram nessas terras provocando desastres com prejuízos irreversíveis para a população indígenas e para o meio ambiente.


Por exemplo, a penetração de fazendas agropecuárias no vale do rio Arinos arrasaram os Beicos-de-pau ( Txukahamã); a construção da rodovia Cuiabá-Santarém, quase exterminou os Krenhekores ou Gigantes do rio Peixoto de Azevedo, que perderam 80% de sua população, e os remanescentes foram transferidos para o Parque Nacional do Xingu. Enquanto que as suas terras ficaram em mãos de grandes empresas mineradoras e agropecuárias. 

Cerca de 60% dessa população indígena no Brasil vivem na Amazônia Legal, com 64 povos indígenas com 29 línguas faladas, e mais de 140.700.000 hectares de áreas protegidas em territórios indígenas, o que corresponde aproximadamente 30% das terras do Estado do Amazonas. A Amazônia Legal corresponde os Estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e a parte oeste do Maranhão e todos eles possuem em seu território áreas da Floresta Amazônica. E cerca de 40% da população indígena vive em áreas fora da Amazônia Legal. Esses grupos indígenas vivem "apertados" em terras muito pequenas que, na maioria das vezes, não são suficientes para manter suas formas tradicionais de vida.

Seguindo esta mesma atenção do governo ao povo indígena, daqui a mais duas décadas vamos apenas ver em livros de historia e as raridades abrigadas em parques nacionais.


Queila Tavares


· Fontes: FUNAI e IBGE

domingo, 13 de março de 2011

Em meu lugar



Se pudesse estar, ao menos uma vez ou meia.
Se pudesse sentir a mesma dor, 
derramar as mesmas lágrimas.
Se ao menos uma vez pudesse valer a pena.
No caminho estão linhas que não podem mudar,
Apenas tente cruzá-las em meu lugar.
Ao menos uma vez, tente ouvir.
Ao menos uma vez não grite palavras e não jogue como pedras.
Em meu lugar, ousa.
Olhe nos olhos, não mude a direção.
Em meu lugar, por favor não sinta pena de mim.
Ao menos uma vez ou meia.

Queila Tavares

Psicologia de um vencido


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos

sábado, 12 de março de 2011

Já não me importo


Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa

Sempre Novo

Tudo que é novo só é novo por uns dias ou até querermos substituir por outro,
ou até cansar, isso em curto e médio prazo.
Saber por quanto tempo vamos querer conservar o novo.
 Aprender a dar importância a quem nos dar importância,
não tratar como opção que nos trata com prioridade.
Senão sempre vamos querer substituir, sempre querer o novo,
assim rapidamente perdemos o interesse, se não soubermos conversar ,
ficaremos sempre trocando.
E incansavelmente sempre procurando...
E esquecendo que  dentro de você bate um coração,
que não quer mais chorar ao som de uma triste canção.
Torne o amor antigo sempre novo.

Queila Tavares


sexta-feira, 11 de março de 2011

Noite chuvosa


Fiquei na chuva para esconder as lágrimas que caiam sem parar,
borrando  a maquiagem, borraram meu desespero.
Molhei o travesseiro, passei a noite a vagar,
Não entendo para que tanto desespero,
que noite sem aconchego,que falta que você me faz,
 porque teve que partir no momento que tinhamos muito a fazer,
  ficou uma vida incompleta, parece uma vida não terminada.
Tanto tempo já passou, e ainda não me acostumei com sua ausência,
 de olhar para o lado e não lhe ver.
E quando não chove, não tenho como disfarçar.
Só restaram pedras para contar e bons momentos a lembrar.
Forças que a vida me faz questionar, longe de você.
Queila Tavares

quinta-feira, 10 de março de 2011

Aos bons costumes






As vezes me parece estranho, mais depois aceitável, de como nos habituamos mal rapidamente, ou seria tudo fase, estilo de época. Ou apenas gostamos do que parece estar no ápice do momento. Não estou querendo falar mal, ou parecer ‘’careta’’, mas me questiono, parece engraçado de como é muito mais fácil fazer uma amizade no ‘’mundo cibernético da net’’. É muito mais fácil do que pessoalmente, pois você não daria atenção para uma pessoa citando poesia, ou falando de moda, filmes e etc... iríamos dizer que LOUCOS. Não iríamos sair na rua dizendo você que ser meu amigo? Confirmar SIM ou NÃO. E em apenas um click (sim), acabamos descobrindo aspectos semelhantes, ah mas tem um nome afinidade, ou coisas em comum.
O mais estranho é que às vezes essa mesma pessoa mora no seu bairro, ou na próxima rua, e já se viram varias vezes, ou estudam na mesma faculdade. E nem um momento se falam, e ao se cruzarem são apenas rostos. 

Lembro-me quando escrevia cartinhas para amigas, hoje mando torpedo Email do celular, tudo rapidamente. Nossa, ainda recebo atualizações direto no celular. Que rapidez e ao mesmo tempo acomodação.
Outra coisa estranha, a quantidade de palavras encurtadas que não tem mais fim, estou para colocar um dicionário da internet. E as pessoas são super educadas e cordiais, difícil saber se estar de mal humor, sempre vão te chamar de Amor, linda, paixão, e mais outros adjetivos. Até o nosso chefe parece ser mais gentil, sempre coloca aquelas emotions de risos. Ao mesmo tempo as tornando lacônicas. E depois as melhores pessoas parecem ser as que moram mais longe, não sei dizer se é aquela sensação do difícil e impossível que nos rodeia.
O que na verdade parece que surgiu mais uma nova forma das pessoas se relacionarem, como se fosse o jogo de futebol da quarta-feira, o encontro de amigas do sábado. O mais estranho é que não conseguimos passar muito tempo sem nenhum acesso, chega a ser frustrante não poder entrar no seu email, ver seus recados nas redes sociais.
Entretanto, não podemos descartá-la, pois há aspectos positivos e negativos. Os negativos giram em torno de mau uso, pelo próprio usuário e temos que ter cuidado com perfil falso, fraudes, golpistas, mal uso de informações. Esses são os riscos que temos que passar, são os lados negativos causado pelo mau usuário. 


Agora vamos ressaltar seu lado positivo, além de divertimento, comunicação, fontes de pesquisa e estudo, entretenimento e muito mais, pessoas hoje trabalham com a internet, transações econômicas, bolsa de valores, fornecendo notícias, estudo à distância, tecnologia e até mesmo locais de compras.
Então é impossível pensar em ficar sem uma conexão, mesmo que as vezes seja contraditório, como tudo tem seu lado perverso.


Queila Tavares 


quarta-feira, 9 de março de 2011

Na volta!






fotos: Queila Tavares

Sentir-se amado



O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama. 
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado. 
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas.
Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, 
uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.


A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, 
apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija,
transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, 
vou querer que ele faça pacto de sangue também? 



Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar.
É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, 
um pacto de eternidade, 
mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois. 


Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, 
que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,
que sugere caminhos para melhorar, 
que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, 
caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, 
relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".


Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás,
é vê-la tentar reconciliar você com seu pai,
é ver como ela fica triste quando você está triste e 
como sorri com delicadeza quando diz que você 
está fazendo uma tempestade em copo d´água.


"Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando?
Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato." 
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e 
que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. 
Sente-se amado aquele que se sente aceito,
que se sente bem-vindo, que se sente inteiro.
Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada,
aquele que sabe que não existe assunto proibido, 
que tudo pode ser dito e compreendido. 
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, 
sem inventar um personagem para a relação,
pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. 
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.


Martha Medeiros

Aquele amor



Ela pertence à espécie de mulheres que
possuem um só amor em toda a sua vida.
Ou amam de verdade apenas uma vez. 
Seria espécie de mulheres ou a maioria assim o é, 
mesmo sem o saber?

Também há homens de eterno amor, 
embora o machismo e as deformações de sua cultura e
comportamento nem sempre os convença de tal.
Ou não convença a maioria. 
Ou será que o fato de serem colocadores de semente
por determinismo biológico os leva a não prestar 
a devida atenção à sua destinação para o amor?

No meio da conversa ela diz, de repente,
que só gostou de verdade de um homem e eis que
vai buscar lá entre papéis amassados, 
daqueles que esturricam o couro das carteiras, 
não um mas três retratos dele, que espalha, qual cartas de baralho, 
sobre a mesa do restaurante. 

E fala dele com a mistura de ternura e tristeza que assaltam
as mulheres que não lograram viver com o seu amor, 
casar-se com ele, ter seus filhos,
viver em função dele e dela, unidos, 
pois esta é a verdadeira vontade e destinação da mulher: 
viver ao lado do verdadeiro amor.


Sim, elas vivem de modo proibido se necessário, casam-se com outro, 
têm filhos, os amam fundamente, 
mas a verdade de seu ser é a do amor verdadeiro, 
até porque mulher vive para amar e por amor, o resto se ajeita.

Podem até deixar seu amor dormitar por anos e parecer serenado.
Volta, porém a qualquer apelo ou menção do nome dele, 
encontro fortuito na rua com um conhecido 
dos tempos do namoro ou da relação.

Como são comoventes e lindas na sua integralidade
bíblica as mulheres quando expressam para os demais ou para si mesmas, 
o amor de suas vidas ou quando consultam, escondido, 
os retratos guardados, recortes, flores secas, 
a memória úmida das restantes lembranças em momentos de silêncio e solidão! 

Abençoados sejam, porque são, 
os homens e as mulheres que na passagem por esta vida 
receberam um dia de alguém, ou deram, um amor único,
original e definitivo. Abençoados sejam e para todo o sempre. 
Como o amor que existe apesar de todas as ternas e dolorosas 
circunstâncias que não impedem a sua verdade mas 
em muitos casos esmagam a sua plena realização.


Arthur da Távola

Mistérios



O amor aparece encoberto por um véu de mistérios
 e sem nenhuma vontade de se mostrar externamente. 
Um dia daquelas em que não sabemos onde colocar o desejo,
 que desperta os sentimentos mais profundos recordações antigas. 
Abrir a janela e esperar o sol raiar. Mas se tudo der errado e a
certeza estagnar vou ousar até a vida duvidar.


Um dia em que não precisa se esconder numa fantasia, 
não precisa fingir uma alegria, 
nem precisa viver um amor de carnaval,
 um amor de fantasia, que a máscaras escondem o que é ser,
 não precisa dizer adeus em cinzas.

Recordar um amor sem ressentimentos, 
e um dia poder dizer que ainda existe um sentimento
 que espera por você , um você sem nome, um você que aparecer. 
Não precisa usar uma máscara, nem palavras repetidas, 
apenas ser você natural.

Queila Tavares

sábado, 5 de março de 2011

Coração é terra que ninguém vê

Coração é terra que ninguém vê 

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri. 

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei. 

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão 

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...


Cora Coralina

Timidez



Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras distantes...
- palavras que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponhos vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão nevegando
nos ares certos do tempo
até não se sabe quando...
- e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

Ou Isto ou Aquilo


Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecília Meireles

ATENÇÃO AO SÁBADO


Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.
No sábado é que as formigas subiam pela pedra.
Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.
De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: 
ao vento sábado era a rosa de nossa semana.
Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?
No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar,
 vejo que é sábado de tarde.
Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.
Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã. 
Domingo de manhã também é a rosa da semana. 
Não é propriamente rosa que eu quero dizer.



Clarice Lispector (do livro "Para não Esquecer")

sexta-feira, 4 de março de 2011

Detalhes


Detalhes são tipos de estilos.
Quando não se quer, detalhes são desculpas.
Desculpas de raça, cor, crença, distância e conceitos.
Desculpas de pré-conceito não se perdoam.
Talvez se perdoe, só para mostrar que não tem pré-conceito de perdoar.
Detalhes mesmo tão pequenos, entre nós dois são coisas bem grandes 
e mesmo que seja para esquecer, os detalhes são em vão, 
 e toda hora se vai e fica. 
É uma inconstância, detalhes costumeiro.
Quando não se ama, detalhes são barreiras.


Queila Tavares

quinta-feira, 3 de março de 2011

Por ser mais um dia...


Estou numa felicidade constante, apesar de às vezes parecer uma montanha russa,
Um carrossel de felicidade, um drinque bem gelado,
Um beijo de despedida, uma música repetida.
Hoje estou feliz por satisfação, por um amor correspondido, não somente por ter recebido flores ou por esta próximo de uma primavera.
Cada dia sinto uma felicidade diferente, e como se cada dia pudesse respirar um missão cumprida, um dia bem vivido, mesmo que seja numa sala de escritório, por passar o dia numa agonia que parece não ter fim, e no final do dia vem uma enorme satisfação.
Uma mistura de sentimento,
como se o dia amanhecesse sorrindo e dizendo: - hoje é seu dia!
E no final do dia, mesmo depois de uma chuva, chegando em casa, a uma satisfação por ser mais um dia.

Queila Tavares