terça-feira, 24 de setembro de 2013

Amor




Amemos! Quero de amor 
Viver no teu coração! 
Sofrer e amar essa dor 
Que desmaia de paixão! 
Na tu’alma, em teus encantos 
E na tua palidez 
E nos teus ardentes prantos 
Suspirar de languidez! 

Quero em teus lábio beber 
Os teus amores do céu, 
Quero em teu seio morrer 
No enlevo do seio teu! 
Quero viver d’esperança, 
Quero tremer e sentir! 
Na tua cheirosa trança 
Quero sonhar e dormir! 

Vem, anjo, minha donzela, 
Minha’alma, meu coração! 
Que noite, que noite bela! 
Como é doce a viração! 
E entre os suspiros do vento 
Da noite ao mole frescor, 
Quero viver um momento, 
Morrer contigo de amor!

Álvares de Azevedo

sábado, 14 de setembro de 2013

Ser simples



Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Cora Coralina

sábado, 7 de setembro de 2013

Se fosse apenas pintor!

Seria bom se quando falássemos de Adolf Hitler pudêssemos lembrar somente dele como pintor, e esquecermos a atrocidade da segunda guerra, mas infelizmente não foi assim, apesar das belas pinturas, a imagem de ditador cruel nunca sera apagar. Hitler foi rejeitado duas vez da Academia de Belas Artes de Viena, em 1907 e 1908, seus trabalhos não foram considerados bom o suficiente, sugeriram que ele se dedicasse a Arquitetura, mas como Hitler odiava estudar, infelizmente ele recursou a ideia. Mesmo assim permaneceu em Viena sem um emprego fixo, vivendo inicialmente do apoio financeiro de sua tia Johanna Pölzl, de quem recebeu herança. Depois passou a vender suas pinturas, pintava cenas copiadas de postais e vendia-as a mercadores, ganhando mais dinheiro do que se tivesse um emprego regular.

Mutter Maria, pintura a óleo, 1913


O castelo e a igreja de St. Perchtoldsdorf.







domingo, 1 de setembro de 2013

Como ELE quer!!!



Deus nos dá pessoas e coisas, 
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas 
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...

Essa... a alegria que ele quer.

João Guimarães Rosa

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Receita de Mulher


Os olhos sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto
A da terra. (Vinícius de Moraes)

O seu semblante, redondo
Sobrancelhas arqueadas
Negros e finos cabelos
Carnes de neve formadas. (Thomaz Antônio Gonzaga)

Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos. (Gonçalves Dias)

Verde carne, tranças verdes. (Garcia Lorca)

Lábios rubros de encanto
Somente para o beijo. (Junqueira Freire)

A sua língua, pétala de chama. (Cândido Guerreiro)

Nos lobos das orelhas
Pingentes de prata. (Gonçalves Crespo)

Mão branca, mão macia, suave e cetinosa
Com unhas cor de aurora e luz do meio dia
Nas hastes cor-de-rosa. (Luiz Delfino)

Os braços frouxos, palpitante o seio. (Casimiro de Abreu)

O dorso aveludado, elétrico, felino
Porejando um vapor aromático e fino. (Castro Alves)

Seu corpo tenha a embriagues dos vícios. (Cruz e Souza)


Com mil fragrâncias sutis
Fervendo em suas veias
Derramando no ar uma preguiça morna. (Teófilo Dias)

Nádegas é importantíssimo
Gravíssimo porém é o problema das saboneteiras
Uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. (Vinícius de Moraes)

As curvas juvenis
Frescas de ondulações de forma florescente
Imprimindo nas roupas um contorno eloquente. (Álvares de Azevedo)

Qualquer coisa que venha de ânsias ainda incertas
Como uma ave que acorda e, inda mal acordada,
Move, numa tonteira, as asas entreabertas. (Amadeu Amaral)


De longe, como Mondrians
Em reproduções de revistas
Ela só mostre a indiferente
Perfeição da geometria. (João Cabral de M. Neto)

Que no verão seja assaltada por uma
Remota vontade de miar. (Rubem Braga)

A graça da raça espanhola
A chispa do Touro Miura
Tudo que um homem namora
Tudo que um homem procura. (Paulo Gomide)


E todo o conjunto deve exprimir a inquietação e espera. Espera, eu disse? Então vou indo, que senão, me atraso!
*Vinícius que me perdoe plagiá-lo. Mas beleza é fundamental.

Millôr Fernandes

Com licença poética





Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Quando eu te encontrei!!!




Acredito que tudo começou com troca de olhares e depois palavras...
verdadeiramente no inicio não acreditava tanto... 
mas as palavras foram como semente que vão ao vento e encontram um lugar, 
um solo e la caem... e lá ficam até crescer.
suas palavras encontraram lugar no meu coração... 
palavras puras e sinceras cheias de sentimentos...
e foram regadas... e cada dia cresce mais..
Acreditava que seria um paixão rápida e depois seria somente culpar
a distância e os problemas,
então como não era apenas uma paixãozinha,
 descobrir que era amor quando na hora de dizer boa noite dava vontade de dizer te amo.
Percebi que um grande amor cresceu quando não dava mais pra ficar longe ( esse amor dura a vida inteira, muda a vida definitivamente), 
quando você me inspira os melhores sentimentos e a magia de escrever...
Existe mais poesia no olhar de quem ama do que em mil poemas que se escrevam… Mas, nem por isso devemos deixar de escrever mil poemas para mostrar ao mundo o que esse olhar procura dizer…
O que escrevo não é exatamente uma poesia... mas acredito na magia das palavras nos sentimentos que ela podem transmitir...


Queila Tavares

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Sombras - (De los ojos de un Almendro)



Con sombras claras y figuras
uniformes el río trasporta
las almas solas, las almas
moribundas.

Inertes y veloces son los
pensamientos enamorados,
razón tiene la erosión para
colapsar la roca, como colapsa
mi espíritu aventurero.

El viento pregona mi muerte,
mientras el equinoccio de
invierno enfría tus besos.
Tristeza y alegría, la primera
por tu partida, la otra por llevarte
en mi corazón mientras
trascurre la vejez de mi cuerpo.

Una sombra gris posa sobre las
nubes altas, la brisa anuncia
una llovizna y mis párpados
se cierran en el sueño de tu compañía.

Autor Desconhecido

domingo, 25 de agosto de 2013

Máscaras





Cada vez que ponho uma máscara para esconder minha realidade,
 fingindo ser o que não sou, fingindo não ser o que sou,
 faço-o para atrair o outro e logo descubro que só atraio a outros mascarados
distanciando-se dos outros devido a um estorvo: a máscara. 
Faço-o para evitar que os outros vejam minhas debilidades
e logo descubro que, ao não verem minha humanidade,
os outros não podem me querer pelo que sou, senão pela máscara.
Faço-o para preservar minhas amizades e logo descubro que, quando perco um amigo, por ter sido autêntico, realmente não era meu amigo, e, sim, da máscara.
Faço-o para evitar ofender alguém e ser diplomático e logo descubro que aquilo que mais ofende às pessoas, das quais quero ser mais íntimo, é a máscara.
Faço-o convencido de que é o melhor que posso fazer para ser amado e logo descubro o triste paradoxo: o que mais desejo obter com minhas máscaras é, precisamente, o que não consigo com elas.


Gilbert Brenson Lazan

Ode ao gato





Os animais foram imperfeitos, 
Os animais foram imperfeitos, 
compridos de rabo, tristes de cabeça. 
Pouco a pouco se foram compondo, 
fazendo-se paisagem, 
adquirindo pintas, graça, vôo. 
O gato, 
só o gato 
apareceu completo 
e orgulhoso: 
nasceu completamente terminado, 
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro 
a serpente quisera ter asas, 
o cachorro é um leão desorientado, 
o engenheiro quer ser poeta, 
a mosca estuda para andorinha, 
o poeta trata de imitar a mosca, 
mas o gato 
quer ser só gato 
e todo gato é gato 
do bigode ao rabo, 
do pressentimento à ratazana 
viva, 
da noite até os seus olhos de ouro. 
Não há unidade como ele, 
não tem a lua nem a flor 
tal contextura: 
é uma coisa só 
como o sol ou o topázio, 
e a elástica linha em seu contorno 
firme e sutil é como 
a linha da proa de uma nave. 
Os seus olhos amarelos 
deixaram uma só ranhura 
para jogara as moedas da noite 
Oh pequeno imperador sem orbe, 
conquistador sem pátria 
mínimo tigre de salão, nupcial 
sultão do céu 
das telhas eróticas, 
o vento do amor 
na intempérie 
reclamas 
quando passas 
e pousas 
quatro pés delicados 
no solo, 
cheirando, 
desconfiando 
de todo o terrestre, 
porque tudo 
é imundo 
para o imaculado pé do gato. 
Oh fera independente 
da casa, arrogante 
vestígio da noite, 
preguiçoso, ginástico 
e alheio, 
profundíssimo gato, 
polícia secreta 
dos quartos, 
insígnia 
de um 
desaparecido veludo, 
certamente não há 
enigma 
na tua maneira, 
talvez não sejas mistério, 
todo o mundo sabe de ti e 
pertence 
ao habitante menos misterioso, 
talvez todos acreditem, 
todos se acreditem donos, 
proprietários, tios 
de gatos, companheiros, 
colegas, 
discípulos ou amigos 
do seu gato. 
Eu não. 
Eu não subscrevo. 
Eu não conheço o gato. 
Tudo sei, a vida e seu arquipélago, 
o mar e a cidade incalculável, 
a botânica, 
o gineceu com os seus extravios, 
o pôr e o menos da matemática,

os funis vulcânicos do mundo, 
a casaca irreal do crocodilo, 
a bondade ignorada do bombeiro, 
o atavismo azul do sacerdote, 
mas não posso decifrar um gato. 
Minha razão resvalou na sua indiferença, 
os seus olhos tem números de ouro.

Pablo Neruda 

sábado, 6 de julho de 2013

A morte absoluta



Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
a exangue máscara de cera,
cercada de flores,
que apodrecerão – felizes! – num dia,
banhada de lágrimas
nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante…
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
a lembrança de uma sombra
em nenhum coração, em nenhum pensamento,
em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
que um dia ao lerem o teu nome num papel
perguntem: “Quem foi?…”

Morrer mais completamente ainda,
- sem deixar sequer esse nome.

Manuel Bandeira

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Os Ombros Suportam o Mundo





Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. 
Tempo de absoluta depuração. 
Tempo em que não se diz mais: meu amor. 
Porque o amor resultou inútil. 
E os olhos não choram. 
E as mãos tecem apenas o rude trabalho. 
E o coração está seco. 
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. 
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, 
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. 
És todo certeza, já não sabes sofrer. 
E nada esperas de teus amigos. 
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? 
Teus ombros suportam o mundo 
e ele não pesa mais que a mão de uma criança. 
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios 
provam apenas que a vida prossegue 
e nem todos se libertaram ainda. 
Alguns, achando bárbaro o espetáculo 
prefeririam (os delicados) morrer. 
Chegou um tempo em que não adianta morrer. 
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. 
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade



A impossível partida




Como poder-te penetrar, ó noite erma, se os meus olhos cegaram nas luzes da cidade 
E se o sangue que corre no meu corpo ficou branco ao contato da carne indesejada? 
Como poder viver misteriosamente os teus recônditos sentidos 
Se os meus sentidos foram murchando como vão murchando as rosas colhidas 
E se a minha inquietação iria temer a tua eloqüência silenciosa?… 
Eu sonhei!... Sonhei cidades desaparecidas nos desertos pálidos 
Sonhei civilizações mortas na contemplação imutável 
Os rios mortos... as sombras mortas... as vozes mortas... 
…o homem parado, envolto em branco sobre a areia branca e a quietude na face... 
Como poder rasgar, noite, o véu constelado do teu mistério 
Se a minha tez é branca e se no meu coração não mais existem os nervos calmos 
Que sustentavam os braços dos Incas horas inteiras no êxtase da tua visão?... 
Eu sonhei!... Sonhei mundos passando como pássaros 
Luzes voando ao vento como folhas 
Nuvens como vagas afogando luas adolescentes... 
Sons… o último suspiro dos condenados vagando em busca de vida... 
O frêmito lúgubre dos corpos penados girando no espaço... 
Imagens... a cor verde dos perfumes se desmanchando na essência das coisas... 
As virgens das auroras dançando suspensas nas gazes da bruma 
Soprando de manso na boca vermelha dos astros... 
Como poder abrir no teu seio, oh noite erma, o pórtico sagrado do Grande Templo 
Se eu estou preso ao passado como a criança ao colo materno 
E se é preciso adormecer na lembrança boa antes que as mãos desconhecidas me arrebatem?... 

Rio de Janeiro, 1935 

Vinícius de Moraes