sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Pequeno amor



''Todo o homem de hoje, em quem a estatura moral e o relevo intelectual não sejam de pigmeu ou de charro, ama, quando ama, com o amor romântico.

O amor romântico é um produto extremo de séculos sobre séculos de influência cristã; e, tanto quanto à sua substância, como quanto à seqüência do seu desenvolvimento, pode ser dado a conhecer a quem não o perceba comparando-o com uma veste, ou traje, que a alma ou a imaginação fabriquem para com ele vestir as criaturas, que acaso apareçam, e o espírito ache que lhes cabe.

Mas todo o traje, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e em breve, sob a veste do ideal que formamos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em quem o vestimos.

O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceita desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida''.


Fernando Pessoa


*O livro do Desassossegado

Um comentário:

  1. eu não posso explicar

    Se eu chorar você ouvir a minha voz,
    linhas;
    Você pode tocar,
    Minhas lágrimas, com as mãos?

    Eu não sabia que a música tão bonita,
    É Palavras inconclusivos
    Eu tive esse problema antes

    Há um lugar, eu sei;
    Possível dizer tudo;
    Estou muito perto, eu ouço;
    Eu não posso explicar.

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