quarta-feira, 18 de maio de 2011

Abismo



Olho o Tejo, e de tal arte 

Que me esquece olhar olhando, 
E súbito isto me bate 
De encontro ao devaneando — 
O que é sério, e correr? 
O que é está-lo eu a ver? 
Sinto de repente pouco, 
Vácuo, o momento, o lugar. 
Tudo de repente é oco — 
Mesmo o meu estar a pensar. 
Tudo — eu e o mundo em redor — 
Fica mais que exterior.



Perde tudo o ser, ficar, 

E do pensar se me some. 
Fico sem poder ligar 
Ser, idéia, alma de nome 
A mim, à terra e aos céus...

E súbito encontro Deus.

Fernando Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário